5 Coisas Que Você Não É Obrigado
Oi, pessoinhas!
Eu ando lendo bastante no Wattpad, e lá, assim como nas plataformas de fanfic, tem tanto gente com alguma bagagem na escrita como gente que está começando agora. Se você souber catar bem, há ótimas leituras, e inclusive eu já aproveito para avisar que vou começar a indicar alguns livros do Wattpad aqui no blog. Mas não foi sobre isso que eu vim falar hoje. O que motivou a abrir o editor de texto foi algumas coisas que eu tenho visto em alguns livros que leio e que, por vezes, conseguem transformar ótimas ideias em textos entediantes.
Quando a gente começa a escrever, por vezes toma os outros livros como referência, e pode ser que a gente interprete mal algumas coisas, ou considere obrigatórios certos elementos que... não são, e que, quando usados em excesso ou sem necessidade, têm potencial para estragar o texto.
Assim, farei aqui um TOP 5 das coisas que eu observo que o pessoal às vezes pesa a mão, da mais óbvia para a mais polêmica.
5) Acabar e começar os capítulos com o personagem indo dormir/acordando
Nossa, eu fazia muito isso, durante a adolescência. Por anos eu e uma amiga escrevemos como que uma fanfic eterna de Harry Potter, e a gente encerrava os segmentos colocando os personagens para dormir. Cheguei a transportar isso para alguns dos meus livros originais. Ok que em um deles até deu certo, mas porque o livro se chama "7 dias perdida com o inimigo", e desde o início a intenção era escrever cada capítulo sobre um dia mesmo. Mas na maioria dos livros, esse recurso dá um cheiro de amadorismo ao seu livro.
Um capítulo deve fechar uma ideia. Na verdade você até pode picotar uma ideia em dois ou três capítulos, se um acontecimento se desenvolver em fases. Por exemplo, eu vou escrever sobre como o pirata chegou na ilha do tesouro, encontrou o local indicado no mapa e o desenterrou. Temos aqui três acontecimentos, eu posso fazer no primeiro capítulo ele no barco, avistando a ilha e desembarcando lá; no segundo, ele fazendo o caminho do mapa até achar o X; e no terceiro, desenterrando o tesouro. Cada capítulo vai englobar um desenvolvimento próprio e, de preferência, acabar num trecho que faça o leitor ter vontade de virar a página e continuar lendo imediatamente. Uma frase impactante ou enigmática, um achado, um personagem novo aparecendo... são inúmeras as formas de despertar o interesse do leitor pela continuidade do texto. Botar seus personagens para nanar, infelizmente, não é uma delas.
4) Fazer a descrição física completa dos personagens
"Meu nome é Fulana de Tal, e eu sou loira, alta, aproximadamente 1.82, 60kg, corpo em formato de violão, olhos azuis miosótis que ficam levemente esverdeados conforme a incidência da luz solar, cabelos lisos como seda, com três cachinhos na lateral esquerda, uma pinta no ombro direito, e essa é a história da minha vida".
Amigos, não. Apenas não.
Sim, também é um erro que eu já cometi na vida. O que ocorre é que o leitor não lembra todos esses detalhes. Ou então o personagem se torna tão específico que fica difícil associar ele a uma imagem, e às vezes fica difícil se identificar com ele também. É claro que tem leitor que gosta mais de descrições, mas via de regra é bom deixar uma elasticidade para o leitor poder modelar a imagem do personagem um pouco à sua maneira.
Não é que você não possa colocar todas essas informações sobre sua/seu personagem, mas não jogue tudo de uma vez só sobre o leitor. Tente entrelaçar as informações no contexto. E principalmente não coloquem essa ficha toda na sinopse, que deve primar pela concisão, isto é, deve ser um resumo bem objetivo e sem spoilers da sua história.
Sobre descrição de aparência de personagem, eu recomendo este texto, cuja autora tratou do assunto com bastantes detalhes e foi bem feliz nas suas colocações.
3) Enrolar ou deixar de colocar coisas importantes para encaixar no número de palavras
Ok, primeiro vamos deixar claro que eu não estou falando de concursos com limites de palavras, certo? Se as regras do concurso dizem que seu texto tem que ter até 5000 palavras, é isso que ele tem que ter, e nenhum "a" a mais. E claro que não tem nada de errado em querer fazer capítulos padronizados, sempre por volta de 2000, 3000, 5000 palavras... isso vai de cada autor.
O problema é quando, para atingir essas metas, o autor fica enfiando coisa que não acrescenta nada na história, prolongando diálogos indefinidamente, ou corta coisa demais, deixando a história excessivamente apressada. Padronização de capítulo todo mundo está livre para fazer, mas ela não é obrigatória, é importante lembrar disso. Se você tiver que escolher entre um capítulo do tamanho X, ou um capítulo redondinho, escolha sempre o redondinho. Mais vale 1000 palavras bem escritas do que 5000 que fazem o leitor sentir que está perdendo tempo. Da mesma forma, mais valem 5000 palavras, que passem exatamente a atmosfera que o autor queria passar, do que 1000 palavras de um texto todo decepado, só para não ficar grande demais.
Lembrem, pessoal: escritor é profissão de humanas (mesmo que o escritor tenha formação em exatas). Os números não devem nos limitar.
2) Contar a vida inteira do personagem
O problema é quando, para atingir essas metas, o autor fica enfiando coisa que não acrescenta nada na história, prolongando diálogos indefinidamente, ou corta coisa demais, deixando a história excessivamente apressada. Padronização de capítulo todo mundo está livre para fazer, mas ela não é obrigatória, é importante lembrar disso. Se você tiver que escolher entre um capítulo do tamanho X, ou um capítulo redondinho, escolha sempre o redondinho. Mais vale 1000 palavras bem escritas do que 5000 que fazem o leitor sentir que está perdendo tempo. Da mesma forma, mais valem 5000 palavras, que passem exatamente a atmosfera que o autor queria passar, do que 1000 palavras de um texto todo decepado, só para não ficar grande demais.
Lembrem, pessoal: escritor é profissão de humanas (mesmo que o escritor tenha formação em exatas). Os números não devem nos limitar.
2) Contar a vida inteira do personagem
Eu sei que você ama seu protagonista, e que fica encantado imaginando todos os detalhes da vida dele, mas nem sempre você precisa contá-los para o leitor. É excelente quando o autor tem aquela intimidade com o personagem, por conhecê-lo bem, de modo que todas as atitudes do personagem ficam coerentes, mesmo aquelas que fogem daquelas mais previsíveis, segundo a personalidade dele.
Por outro lado, o autor não precisa contar TODOS ESSES DETALHES para o leitor. Você pode fazer só um recorte da vida do seu personagem, pegando aquele espaço de tempo sobre o qual você quer falar (o período em que ele foi casado, a viagem de férias ao Caribe, o tempo em que ele militou pelo veganismo), e, enquanto desenrola sua história, você acrescenta alguns detalhes IMPORTANTES sobre o passado dele, por flashbacks, sonhos, nas conversas, por lembranças... tanto faz. O principal é não tornar sua história arrastada. Aquela história que fica quinhentos anos falando de quando o fulaninho era pequeno e como as pessoas na escola faziam bullying dele e depois ensinando cada etapa de como ele aprender a escrever e etc etc etc... é entediante. Fica parecendo que você está lendo uma biografia, e não uma ficção.
Mas há histórias que são nesse estilo mesmo, Érika! E há biografias interessantes!
Concordo, eu inclusive já li algumas. Livros no estilo de memórias, como as Memórias Póstumas de Brás Cubas e as Memórias de Um Sargento em Milícias são construídos têm como objetivo, exatamente, contar a vida do protagonista. Mas se o seu livro não é de memórias... para quê?
Inclusive, mesmo se o seu livro FOR de memórias, o senso de medida é sempre importante, né. Não importa o quanto você explore a vida do seu personagem, tenha ciência de que, na hora de colocar no papel, o melhor é priorizar alguns acontecimentos mais importantes, para não entendiar o leitor.
Ah, você tá c***ndo regra!
Não estou, amore. Na verdade eu estou fazendo o contrário disso. Você pode escrever como quiser. O título desse post é "5 coisas que você não é obrigado", e a única função dele é alertar, como leitora, para coisas que podem cansar ou afastar o leitor, e que às vezes o autor, de tanto ver por aí, acha que é obrigatório... mas não é.
1) Prólogo e Epílogo
Os apaixonados por prólogo vão me linchar por isso, mas em sei lá, 70% das histórias que eu leio no Wattpad, o prólogo seria totalmente dispensável, está lá de enfeite. Ou então chamam de prólogo uma coisa que, na verdade, é o capítulo 1. Mais recentemente também vi gente chamando de epílogo o que, na verdade, era o último capítulo da história.
Primeiramente vamos entender o que são um prólogo e um epílogo e para que eles servem. Se quiser uma definição completa, pode ler este texto (que, de bônus, já os diferencia do prefácio e do posfácio).
Basicamente, o prólogo e o epílogo são "capítulos" da sua história que não entram na sequência normal. Eles são trechos destacados da sua história, antes (prólogo) ou depois (epílogo) do encadeamento de fatos que passa do capítulo 1 para o 2 e assim sucessivamente, até o fim do livro.
Difícil de entender? Vamos pegar um exemplo. Sabe o primeiro capítulo de Harry Potter, "O menino que sobreviveu"? Ele poderia facilmente ser considerado um prólogo, porque ele conta uma história que se passa 11 anos antes do "curso normal" da história, mas é essencial para ela. A saga do Harry só começa mesmo quando ele faz 11 anos, e recebe a carta de Hogwarts. Mas o primeiro capítulo se passa 11 anos antes do segundo, quando Harry é colocado para os tios cuidarem, e nele se revelam elementos importantes que só farão sentido para nós mais adiante na cena, pistas sobre toda a treta com o Lord das Trevas e os outros acontecimentos que cercam o nascimento do Harry e a morte dos pais dele.
Já aquele trecho, no fim do livro 7, que se passa 19 anos depois, poderia comodamente ser considerado um epílogo. Ele dá esclarecimentos sobre a vida e o destino dos personagens, mas também se passa em momento diferente do fio condutor da saga, que é toda a luta de Harry com Voldemort, em linhas gerais.
Agora, um exemplo de prólogo e epílogo usados de modo errado seria o seguinte:
Prólogo: Joana chega em casa e descobre que seu cachorro morreu.
Capítulo 1: A mãe de Joana chega em casa, e elas enterram o cachorrinho.
Capítulo 2: Joana está inconsolável, e a mãe dela decide adotar outro cachorrinho pra ela.
Epílogo: Elas adotam outro cachorrinho e ficam felizes para sempre.
Vê? Na verdade o que se tem é uma história de quatro capítulos, e chamar o primeiro e o último de prólogo e epílogo, além de um erro técnico, pode ser um tiro no pé... porque tem leitores que pulam esses trechos. É certo? Creio que não, o prólogo e o epílogo são partes do livro, e devem ser lidos. Mas em tese eles são partes que não seriam tão necessárias para o entendimento da história; no nosso exemplo, se a história do Harry Potter tivesse começado com ele aos 11 anos embaixo do armário e acabado na batalha de Hogwarts, ainda assim seria uma história completinha e entenderíamos tudo. Deve ser por isso que alguns leitores pulam.
E o meu ponto é esse: sua história precisa de prólogo? Se não precisa, saiba que NÃO É OBRIGADO. Melhor não colocar nada, do que colocar errado.
Era isso por hoje.
Perdoem o intrometimento e eu espero ter ajudado alguém com essas opiniões de leitora.
Gostei! Interessante artigo e muito verdadeiro. Infelizmente, tem muitos livros com ótimas ideias no Wattpad, porém mal desenvolvidos. Quem sabe, através dessas dicas o panorama se altere.
ResponderExcluirSim! Espero que as dicas ajudem mesmo. Ou que, pela prática, os autores comecem a sentir o que é bom no seu modo de escrita, e o que é melhor modificar. Obrigada por ler e comentar!
ExcluirSabe, essa é uma das magias de se tentar escrever uma história, a imensa flexibilidade que se tem para tentar contar ela de maneira que fique satisfatório para o autor e o escritor... parece que, quando se começa a escrever e se temu ma idéia martelando em sua cabeça, tudo parece conspirar para que no final, as coisas fluam e deem certo...
ResponderExcluirTambém experimento dessa sensação, de que tudo conspira para o bem, especialmente por não escrever com roteiro. Mas é sempre bom alertar o pessoal para o fato de que essa flexibilidade existe e que não devemos nos apegar demais a fórmulas, e sim dar flexibilidade a nossas histórias. Obrigada por ler e comentar!
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