Resenha: Romance d'A Pedra do Reino e do Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta — Ariano Suassuna

Já faz um mês que eu concluí a leitura deste livro, um mês que eu tento escrever sobre ele, sem sucesso. Hoje faço mais uma tentativa; esperamos que eu consiga condensar minhas impressões sobre essa obra quase digna de Dostoiévski, em tamanho e conteúdo.
Ressalto que esse "quase" não provém de uma preferência intrínseca pelos autores estrangeiros em detrimento dos nacionais, embora minha queda pelos russos seja grande. Durante a leitura do livro, quando pensava em escrever uma resenha dele, estava pronta a tratar o "Romance d'A Pedra do Reino" como uma obra digna das de Dostoiévski, já que ele tinha tudo que se encontra nos gigantescos romances do famoso realista: crime, diálogos profundos, personagens bem desenvolvidos, certa ironia na observação dos comportamentos humanos, um protagonista longe de ser perfeito, alternância de cenas meditativas com as cômicas e com as dolorosas, que retratam em sua crueza os sofrimentos e as maldades.
No final, porém, Ariano Suassuna nos prega uma peça tão grande — daquelas que a gente antevê, mas não quer acreditar — que eu fiquei um pouco desapontada e decidi classificar o livro como uma espécie de híbrido de Dostoiévski com Lemony Snicket (que eu aprecio bastante, também, mas certos hábitos dele me irritam).
Olha a cara de troll do velhinho aí.

Acho que foi essa irritação e a leve sensação de ter sido enganada que me fizeram adiar a redação desta resenha
Acho que foi essa irritação e a leve sensação de ter sido enganada que me fizeram adiar a redação desta resenha.
Mas tudo em sua ordem. A edição que eu li era esta aqui, com prefácio da Rachel de Queiroz, que eu não entendi um pouco direito, graças à riqueza de referências à história em si, e só fui compreender (e concordar em muitas partes) depois da leitura completa.

 A edição que eu li era esta aqui, com prefácio da Rachel de Queiroz, que eu não entendi um pouco direito, graças à riqueza de referências à história em si, e só fui compreender (e concordar em muitas partes) depois da leitura completa
(Depois de ler o livro inteiro, só agora percebi que a "mancha" na capa são a Pedra do Reino. Cuidado com a burra).
Além do prefácio, antes do livro em si há um artigo analítico cujo autor eu não me lembro, mas que tem uma citação muito interessante de Alberto Moravia, segundo o qual "em todo escritor que tenha um conjunto de trabalhos que revele o seu esforço, a gente encontrará temas que se repetem." Eu sou uma leitora repetitiva, quando me apego a um autor, vou devorando aos pouquinhos toda a obra dele, então posso atestar pela observação a veracidade dessa frase. Ela também se aplica ao Ariano Suassuna, e, como ressaltou a prefaciadora, o Romance d'A Pedra do Reino, o livro todo, e não o seu protagonista, é uma imagem e condensação do autor. Neste livro o leitor encontra tanto o drama de A Mulher Vestida de Sol, quanto o tema religioso, a comédia, e o personagem espertalhão, como em O Auto da Compadecida. De fato, a ambientação da história é em Taperoá também, e o próprio João Grilo, herói do Auto da Compadecida, faz aparições discretas duas vezes no livro, uma delas em um episódio digno de nota que eu reproduzo aqui para quem tiver paciência de ler:

 De fato, a ambientação da história é em Taperoá também, e o próprio João Grilo, herói do Auto da Compadecida, faz aparições discretas duas vezes no livro, uma delas em um episódio digno de nota que eu reproduzo aqui para quem tiver paciência de ler:     

Sobretudo, no Romance há o Sertão e há os folhetos — os próprios capítulos do livro são denominados folhetos — e toda a atmosfera heráldica e nobiliárquica, de uma nobreza bem local, que caracteriza o Movimento Armorial a que Suassuna com orgulho ...     
Sobretudo, no Romance há o Sertão e há os folhetos — os próprios capítulos do livro são denominados folhetos — e toda a atmosfera heráldica e nobiliárquica, de uma nobreza bem local, que caracteriza o Movimento Armorial a que Suassuna com orgulho se filiava.
Meu primeiro encontro com o Romance d'A Pedra do Reino, tirando as vezes em que eu passava por ele na biblioteca e pensava "Que livro grandão!", foi numa prova de concurso público. O texto para interpretação na prova de português era o Folheto que inaugura o livro, e o achei muito bem escrito e intrigante. Confesso que namorei esse livro muitas vezes na biblioteca, com mais afinco depois desse episódio, mas não tinha coragem de iniciá-lo. No fim do ano passado, aproveitei umas duas-três semanas que permaneci sem computador para devorar o livro.
Para minha felicidade, a história acontece justamente no nordeste, na década de 1930, grande parte entre 1935–38, então ainda me serviu como material de pesquisa para o meu romance histórico Dias Vermelhos (no meu perfil), já que estou escrevendo justamente uma parte que se passa no nordeste em 1935, no período que cercou a Intentona Comunista. Em Romance d'A Pedra do Reino não há uma retratação desses acontecimentos, mas o nome de Luís Carlos Prestes e toda a tensão em torno do comunismo que existia na época é ventilada ocasionalmente no livro, inclusive nas cenas cômicas, como o diálogo a seguir, entre um senhor e uma mulher da ala conservadora da Vila de Taperoá:
A senhora fala assim, mas é porque ainda está pensando nos cachorros sertanejos do nosso tempo, uns cachorros mais educados e respeitosos do que esses cachorros perdidos, de hoje! Tudo, agora, é um fim de mundo, minha senhora Dona Carmem, e os cachorros de hoje em dia não respeitam mais ninguém, são, todos, influenciados pelo comunismo! A senhora não se admire mais de nada, porque, do jeito que as coisas vão, daqui a pouco até os cachorros sertanejos menos conceituados vão andar por aqui no maior dos atrevimentos! Se ainda fosse um cachorro de respeito, um cachorro civilizado, como os da Alemanha, ainda ia! Mas um cachorro reles desses, um cachorro qualquer, de pé-de-serra, sentir-se no direito de se escanchar nas cadeiras das senhoras, aí não, é demais!
O livro começa com o narrador-protagonista Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna se apresentando com uma dezena de títulos, dentre eles a de genuíno monarca do Brasil, e, em estilo empolado, nos propondo uma série de situações enigmáticas que promete explicar ao longo da narrativa, a saber: o motivo da sua prisão, o assassinato de seu tio, ocorrido naquela mesma torre em 1930, o desaparecimento de seu primo, Sinésio, e as desventuras do Rapaz do Cavalo Branco.
É a chegada deste Rapaz do Cavalo Branco à vila de Taperoá — ou antes, os eventos que precedem essa chegada — que inauguram a ação do livro, no Folheto II. O viés armorial se apresenta ali com toda a sua força, e o empolamento da narrativa de Dinis alcança tamanho vigor, falando de cavaleiros e bandeiras e brasões que chega a entediar. A cavalgada, porém, é interrompida bruscamente por uma emboscada promovida por um grupo de cangaceiros — o que me espantou um tanto, já que eu pensava que o grupo já se compunha de cangaceiros enfeitados verbalmente por Dinis— que tem um desfecho sangrento. Com esse episódio, o autor e o narrador nos alertam para não esperar só desfiles e nobrezas do que vem adiante, mas também certa crueza na sequência dos acontecimentos.
O livro tem por volta de 750 páginas grandes, e descrever ciclo por ciclo e folheto por folheto a ação que vai-e-volta (como o príncipe do título) entre 1930, 1935 e 1938 transformaria esta resenha em outro livro, embora menorzinho. Então vamos tentar resumir.
Ao longo da Parte I (Prelúdio: A Pedra do Reino), Dinis congela a história dos visitantes da Vila de Taperoá e passa a nos explicar porque atribuiu a si mesmo o título de Rei, lá no início, nos conta a história de seus antepassados, que reinaram na Pedra do Reino (os incidentes a que ele alude podem ter se originado em incidentes reais do Século XIX no Sertão, como se entrevê pelas epígrafes do livro), e depois explica como ele mesmo se coroou Rei, resgatando a nobreza de sua linhagem.
Apesar de querer o título, porém, ele não deseja ter o mesmo fim de seus antepassados: admira toda a atmosfera violenta que os cerca, e o próprio fato de terem sido mortos em banhos de sangue, mas admite ser, ele mesmo, covarde e sem muitos talentos viris. Assim, pretende construir seu próprio legado de outra maneira, o que nos leva à parte II.
Na Parte II (Chamada: Os Emparedados), Dinis nos apresenta um pouco mais de sua formação, a saber, de sua formação intelectual, curiosamente equilibrada entre Esquerda e Direita, representadas em seus posicionamentos, respectivamente, nas pessoas do Professor Clemente Hará e do Doutor Samuel Wandernes. Clemente é negro, adotado por um padre, que lhe deu educação, advogado, comunista, ateu, realista, nativista, e afeito às escritas teóricas. Dinis cita algumas de suas ideias ao explicar, em outro momento do livro, porque se considera "monarquista de Esquerda":
Ora, segundo Clemente, as pessoas da História brasileira e sertaneja que fazem essas coisas, são sempre da Esquerda e do Povo! A Direita das cidades, a "Burguesia urbana" (para usar a expressão do genial Epaminondas Câmara), o que quer é viver tranquilamente, roubando, na vida pacata e ordeira de quem já está bem instalado e só deseja mesmo é ordem pra poder furtar mais à vontade.
Samuel, por sua vez, é descendente dos nobres de engenho pernambucanos, loiro de olho azul, posteriormente Promotor de Justiça, integralista, católico, romântico-medievalista, fanático pelas origens ibéricas do Brasil e apegado à poesia. Os dois foram professores de Dinis (e seus irmãos e primos), e, até a idade adulta, exercem grande influência sobre o narrador que, em tudo, se define como um meio termo entre os dois, que são amigos e comensais de Quaderna, ao mesmo tempo em que o tratam com desprezo e condescendência.
Essa feição de Pedro Quaderna como meio-termo dos seus dois professores foi muito bem trabalhada pelo autor até os mínimos detalhes (talvez até o exagero), como o fato de ele ser do signo de gêmeos, associado, pelo pouco que eu sei desse assunto, a uma dubiedade até traiçoeira. Em qualquer caso, a formação eclética e indecisa mesmo de Quaderna aparece em todos os seus atos. Ele ora concorda com um dos professores, ora com outro, e com mais frequência com nenhum deles, propondo sua própria e terceira via, que geralmente mescla características das ideologias de ambos os professores — como vem fazendo desde o início do romance.
Não sei se essa era a intenção do autor, mas ficou a impressão de que Dinis reflete, nessa sua composição híbrida, o povo brasileiro. Clemente representa a origem negra e indígena (o "oncismo" negro-tapuia, como ele gosta de dizer), enquanto Samuel reflete a parte europeia da origem do Brasil. Dinis aparece entre os dois, e seu sentimento por eles é interessante: um misto de respeito, admiração, e também desprezo, tanto por sustentá-los, por ver as hipocrisias de cada um, por irritar-se secretamente com o modo como o tratam e, acima de tudo, por acreditar-se superior a eles.
De fato, ele acredita ser o Gênio da Raça brasileira, e também o Gênio da Humanidade.
Toda essa parte, que nos apresenta ricas discussões filosóficas, existe para explicar como Dinis resolveu o dilema de ser rei sendo covarde: citando uns quantos folhetinistas, ele chegou à conclusão de que o que um rei precisa para ser rei é de um Castelo, e de esse Castelo não precisa ser, necessariamente, um castelo físico. A obra-prima de uma pessoa é, também, um castelo — e eis como ele decide que vai construir um castelo em forma de romance.
Qual romance? Este que temos em mãos, que conjuga em si poesia, excertos de obras de outros, tem um crime insolúvel, uma história de amor trágica, citações de outros 'grandes' escritores, e todos os outros elementos que ele colhe das conversas com seus professores que seriam necessários para compor a Obra Máxima da Humanidade.
Na Parte III (Galope: Os Três Irmãos Sertanejos), o narrador ensaia retornar à ação do livro, em 1938, ao começo do processo que levou à sua prisão, e nós retornamos com ele.
Entre visões (visagens, como ele chama), conversas e outros episódios bizarros, como um duelo com penicos, ficamos sabendo um pouco mais sobre Dinis. Se até então tínhamos guardado sobre ele a impressão de uma pessoa menor ou fragilizada entre outros mais poderosos, impressão levemente manchada por insinuações e segredos escapados aqui e ali, na terceira parte vamos descobrir que, ao contrário, Pedro Dinis é uma pessoa um tanto quanto influente — para não dizer poderosa — na Vila de Taperoá. A mão dele parece estar em todos os negócios que acontecem na cidade, desde os nobres até os escusos, desde o encargo da biblioteca, o funcionamento de um jornal, a organização das Cavalhadas na festa do Divino Espírito Santo, até a manutenção de uma casa de prostituição.

 A mão dele parece estar em todos os negócios que acontecem na cidade, desde os nobres até os escusos, desde o encargo da biblioteca, o funcionamento de um jornal, a organização das Cavalhadas na festa do Divino Espírito Santo, até a manutenção de...
(Uma cavalhada, com os cavaleiros do Cordão Azul e do Cordão Encarnado).
Uma das cenas mais dostoievskianas do livro é a conversa de Quaderna com Pedro Beato, um velho com cuja esposa, Maria Safira, Quaderna vive amigado. É o momento do livro em que vemos o narrador mais exposto; provavelmente esse beato é a única pessoa que o protagonista respeita de verdade. Diante dele, em especial diante da ausência de ódio por parte dele, Quaderna enxerga todos os seus erros e faltas e fragilidades, e é uma das únicas vezes em que o vemos manifestar alguma dose de humildade. Abalado pela conversa com Pedro Beato e por uma anterior visão da Moça Caetana — uma prefiguração sertaneja da Morte — , Quaderna sai para uma volta antes de ir à delegacia, aonde foi convocado para dar depoimento. Encerrando esse ciclo místico, ele encontra outra pessoa, que remete ao satânico tanto quanto Pedro Beato remetia ao divino, e que lhe mostra uma crueldade, contando-lhe histórias escabrosas de incestos e do assassinato de um bebê, cujo corpinho foi lançado no barranco do rio e agora é disputado pelos cães.
Essa história também produz forte impressão sobre Quaderna, e, quando ele sai dali, tem-se a forte impressão de que ele foi chamado a um momento de decisão; seus possíveis caminhos foram colocados diante dele — para o céu, com o arrependimento, ou para o inferno, com a continuidade de seus atos e negligências culposas — e que seu próximo ato decidirá, irreversivelmente, o caminho escolhido.
O incidente com Maria Safira na igreja deixa clara a escolha do personagem.
Em seguida Quaderna encontra o juiz e a escrivã ad hoc— moça em que ele, ocasionalmente, joga cantadas — e começa uma nova fase do livro, com o depoimento do Rei da Pedra do Reino no processo reaberto para investigar a morte misteriosa do seu tio (sim, a mencionada lá no começo), e a participação do próprio Quaderna nesses eventos.
Metade da Parte III e as Partes IV e V (Tocata: Os doidos e Fuga: A demanda do sangral) abordam um pouco mais os eventos que Quaderna prometera relatar. Ele nos explica um pouco melhor como ocorreu a morte de seu tio — e como esse tio era meio doido, e como eram complicadas suas relações familiares — e o sequestro e morte de seu primo Sinésio, O Alumiado, acontecidas no contexto da 'Revolução' de 1930, e cercada de uma atmosfera messiânica, já que a população da vila espera pelo retorno de Sinésio. Tudo junto e misturado porque, segundo os pensamentos que o autor coloca na boca de Arésio, o irmão mais velho de Sinésio (com todo o jeito de um Caim ou de um Mítia Karamazov mil vezes piorado), política e religião, entre outras coisas, são meio inseparáveis na América Latina:
Por exemplo: seus amigos são incapazes de ver que o Exército e a Igreja são, na América Latina, os únicos Partidos organizados, disciplinados e verdadeiramente existentes.
Além de figuras políticas, aparecem figuras políticas, um ou dois tesouros escondidos, uma família arquirrival envolvida com velhos aliados da família do tio, uma moça meio piradinha que promete ter papel vital e romântico e trágico... a história vai se intrincando mais e mais e nos deixando curiosos para ver como aquela teia bizarra vai se desenrolar. Ao mesmo tempo, as páginas vão diminuindo gradualmente, e uma suspeita desagradável nos inunda.
Nos atos finais da história, retornamos finalmente à cavalgada do Folheto II, sua chegada à Vila de Taperoá, e os ensaios do que promete ser uma rumorosa aventura, a qual, ao que tudo indica, contou com a participação vital de Dinis — ou até foi arquitetada nos mínimos detalhes por ele, como pensa o juiz, e confesso que eu também — e deu causa ao processo e à posterior prisão.
E então chega o final, que eu não vou contar porque seria muita sacanagem, mas que é muito Lemony Snicket. Quem leu Desventuras em Série deve ter noção do tamanho da minha irritação.
Apesar dos pesares, considero o Romance d'A Pedra do Reino e do Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta um daqueles livros difíceis de esquecer e difíceis de absorver por completo, graças a trechos profundíssimos como este:
Por enquanto, só existem dois tipos de Governo: o dos opressores do Povo e o dos exploradores do Povo. O primeiro, é o dos Tiranos, o segundo, é o dos Comerciantes. No primeiro tipo, o Povo é submetido e esmagado em nome da grandeza, no segundo é explorado em nome da Liberdade.
E este, ambos colhidos de um dos diálogos mais profundos, quase no final do livro, entre Arésio Garcia-Barreto e o jovem comunista Adalberto Coura:
O mais que o homem verdadeiro procura, em seu conflito com o mundo, é colocar uma precária ordem em sua vida e um certo estilo em sua melancolia, em seu destino, que é, por natureza, despedaçado, triste, falhado, enigmático e trágico. Para isso, o homem tem duas fontes, duas raízes de defesa — o choro e o riso. Mas o choro e o riso verdadeiros, aqueles fincados profundamente e cujo ritmo se alimenta de sangue e de subterrâneo. Dinis Quaderna não é alegre, Adalberto. Quem passou o que ele passou e viu o que ele viu, não pode ser alegre. Os subterrâneos do sangue dele são como os meus, povoados de mortos sangrentos, que flutuam no rio da desordem. Apenas, enquanto eu resolvo meu conflito pelo choro e pelo suor do sangue e da violência, ele resolve o seu pelo riso; mas eu não sei qual o mais despedaçado, se o meu sangue ou se o riso dele!
Fragmentos do Romance vão ficar em minha mente por muito tempo. Sua natureza é, de modo geral, fragmentada mesmo. É difícil falar em enredo ou em fio da meada nesse livro. Ele é quase um álbum, uma colagem compilada pelo autor ao longo de 12 anos (1958–1971), cheia de referências, citações, intertexto, e muita, muita metalinguagem. Sobram, inclusive, as alfinetadas aos escritores, tais como esta:
Então Adalberto Coura tirou de sob o colchão da cama uma pequena brochura suja, com o título de Pensamentos sobre o estado. O livro tinha algumas indicações que fizeram Arésio sorrir, porque indicavam a extrema juventude em que ainda se achava o autor. Em primeiro lugar, na capa, anunciava-se logo que aquela era a primeira edição, indicando-se, assim, que o autor esperava tal demanda do público que logo se seguiria outra. Depois, na folha de rosto do livro, via-se escrito "Coleção Livros Eternos — 1º Volume".
É um livro sobre um livro, um livro dentro de um livro, com tanta coisa pra se pensar, meditar e rir que, a despeito do desapontamento final, e de não recomendá-lo para menores de dezoito anos, por alguns trechos escabrosos e violentos, não posso negar-lhe o título de épico.
E pronto, finalmente resenhei este livro e me sinto livre para novas leituras!
Alguém por acaso já leu este? O que achou?
Aguardem mais impressões adiante! Em data incerta, como sempre.
Beijinhos!

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